Localizada na Ilha do Marajó, no estado do Pará, Salvaterra é uma das portas de entrada mais importantes do arquipélago, graças ao Porto de Camará, situado no extremo sul do município. Criada oficialmente em 20 de dezembro de 1961 pela Lei Estadual nº 2.460, durante o governo de Aurélio do Carmo, a cidade integra a Região Imediata de Soure-Salvaterra e ocupa uma área de pouco mais de 1.000 km².
Origens e povoamento
Antes da colonização, toda a região era habitada por povos indígenas das etnias Sacaca e Aruans, reconhecidos pelo seu legado artístico e pela cerâmica marajoara. A presença europeia começou a se intensificar por volta do século XVIII, quando frades jesuítas se estabeleceram na antiga vila de Monsarás e, posteriormente, ergueram a igreja da Vila de Joanes – cujas ruínas se tornaram um dos principais símbolos históricos do município.
A expansão missionária dos jesuítas partiu de Belém, onde foi fundada uma casa jesuítica em 1626, permitindo sua atuação por diversas aldeias amazônicas.
Formação do município e tradições
Durante muitos anos, Salvaterra permaneceu como distrito de Soure, alcançando status de município somente em 1961. Desde então, passou a ser conhecida como a “Princesa do Marajó”.
A formação social de Salvaterra também carrega marcas da resistência dos povos escravizados. A região abrigou grandes fazendas controladas por colonizadores portugueses, que utilizavam mão-de-obra indígena e africana. Da luta desses povos surgiram as comunidades quilombolas que permanecem vivas até hoje, preservando cultura, espiritualidade e tradições seculares.
A origem do nome “Salvaterra”, segundo moradores antigos, teria surgido da expressão admirada de jesuítas ao conhecerem a região: “Salve, terra!”.
Geografia
Salvaterra está situada a 5 metros acima do nível do mar, cercada por rios, praias de água doce, campos e igarapés que formam um dos cenários mais singulares da Amazônia. A população estimada em 2024 é de aproximadamente 25 mil habitantes, espalhados em cerca de 918 km² de território.
Seu limite principal é com o município vizinho de Soure, separados pelo Rio Paracauari — nome que, no tupi-guarani, significa “rio de águas profundas”.
Entre seus destaques naturais estão:
•Praia de Água Boa, um recanto rodeado por vegetação.
•Vila de Joanes, situada a 17 km da sede, onde ficam as famosas ruínas históricas.
•Reserva Ecológica da Mata do Bacurizal e Lago Caraparú, uma unidade de conservação municipal voltada à proteção do ecossistema e ao incentivo ao ecoturismo.
Nos períodos de cheia amazônica, é comum ver búfalos cruzando os campos alagados, montados por vaqueiros — uma das cenas mais tradicionais do Marajó.
Economia
A economia de Salvaterra é diversificada, mas o município se destaca especialmente pela produção de abacaxi, considerado um dos mais doces do Brasil. Grande parte das plantações concentra-se na Vila de Condeixa, que está entre as maiores produtoras do estado.
Além do abacaxi, ganham espaço produtos como mandioca, açaí, bacuri, cupuaçu, graviola e outras frutas típicas da região.
Outras atividades econômicas incluem:
•Pecuária de gado e búfalos.
•Pesca artesanal, principalmente nas vilas de Jubim, Joanes, Água Boa e proximidades do Rio Paracauari.
•Comércio local, formado por pequenos estabelecimentos, restaurantes, mercados, lojas e serviços essenciais.
O setor turístico também cresce a cada ano, impulsionado pelas paisagens naturais, praias, cultura e variedade de empreendimentos de hospedagem.
Turismo e Cultura
Salvaterra reúne natureza, história e tradições culturais profundas. O município abriga expressões populares reconhecidas em todo o estado, especialmente nas comunidades quilombolas, com forte presença de:
•Carimbó
•Boi-Bumbá e Búfalo-Bumbá
•Pajelanças e benzimentos
•Conhecimentos tradicionais passados por mestres e mestras da cultura local
Entre as figuras mais conhecidas está Mestre Damasceno, referência no Carimbó e no Búfalo-Bumbá, já homenageado por instituições culturais e pela escola de samba Paraíso do Tuiuti, do Rio de Janeiro.
Distritos e Comunidades
O município é composto por cinco distritos:
•Salvaterra (sede)
•Condeixa
•Joanes
•Jubim
•Monsarás
Além disso, conta com dezenas de povoados rurais e várias comunidades quilombolas oficialmente reconhecidas, como:
Siricari, Mangueiras, Salvá, Deus Ajude, Providência, Bacabal, Bairro Alto, Paixão, Boa Vista, Caldeirão, Campina/Vila União, Santa Luzia e Pau Furado.